sexta-feira, 24 de agosto de 2007

O papel da Filosofia

Por
Thiago Minnemann

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Ao se falar em Filosofia, toca-se num campo muito vasto onde encontra-se diversos caminhos, daí provém a dificuldade e falta de determinação ao se falar sobre. Entre tais possibilidades da Filosofia, surgem principalmente as do significado da palavra, da origem do termo, da delimitação de seu alcance e de sua divisão em diversas outras disciplinas.
A significação etimológica do termo “filos sofia” é a de “amor à sabedoria” [1]. Confusão comum é entendê-lo como “amor ao saber”, confusão errônea pois os próprios gregos diferenciavam o saber episteme (episteme) que pode ser traduzido por conhecimento teórico, da sabedoria Sofia (Sofia) que é conhecimento teórico atrelado ao prático, próprio do sábio (sófos - sofos). Indo além, o termo “Filosofia” liga nossa época a uma tradição, e nos convida a mergulhar no passado, nos incita a ter em mente a origem de nossa própria história - a história ocidental. Deixando de lado as mudanças no significado da palavra ao longo das épocas, deve ser claro que “Filosofia” nos mostra bem mais que a combinação de dois termos gregos, de duas palavras, para chegar até nossos dias carregada de um passado histórico onde ecoa todo um modo de vida que guiado por esta palavra orientou toda uma cultura, orientou um universo próprio: o modo de vida dos antigos gregos.
Tal reconhecimento torna o pensar a Filosofia muito mais do que pensar sobre - e simplesmente pronunciar - uma palavra. Pensar a Filosofia é pensar um modo de vida. Em tal contexto a Filosofia perde seu caráter puramente lingüístico e se mostra a nós revestida de um modus vivendis, inevitavelmente atrelado a um contexto histórico-social único, de forma que se tornam indissociáveis o fazer Filosofia e o viver a Filosofia. Não se trata, portanto, de nos voltarmos simplesmente à compreensão etimológica da palavra, e sim, adentrando em um nível mais abstrato e profundo de pensamento, escutar o que ela tem a nos dizer, estar atento a ouvir o chamado da Filosofia e nos voltar àquele lugar onde ainda ecoam vivas as vozes de Parmênides, Platão, Tomás de Aquino, Descartes, Hegel e tantos outros que por ali passaram deixando suas pegadas que serviram de molde para tantos outros caminhos.
Esse se deixar compreender da Filosofia e estar aberto à sua voz não pode ser, conseqüentemente, diferente de um saber teórico atrelado a um prático, como atesta, a priori a própria origem da palavra. Fazer Filosofia transcende, portanto a pura conceituação, porém sem negá-la a devida importância, é mergulhar numa nova forma de ver o mundo e de compreendê-lo e explicá-lo em sua essência mais profunda, essência esta que serve e sempre servirá como alicerce de todos os outros saberes. É, também, explicar o que nos rodeia e a nós mesmos, humanos em nossa condição enquanto tal, e nossas relações dualistas homem-mundo.
Chega-se assim a conclusão de que pensar a Filosofia e o mundo é fazer um resgate das tradições que se encontram associadas à essência do próprio termo, é, também, adotar uma nova postura trazendo o saber puro para a práxis, para o mundo concreto, é se deixar inserir em uma historicidade que constrói o homem. Portanto Filosofia é muito mais que “aquilo com a qual ou sem a qual o mundo continua tal e qual”. Ou se vive Filosofia ou não se faz Filosofia.
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[1] Amor em grego é tradicionalmente dito de três formas: Eros que é o amor de aspecto mais carnal, envolvendo desejo, como entre homem mulher. Ágape sendo um amor desinteressado, por pura benevolência, mais ou menos como o amor divino, ou amor de mãe. E filia que é o amor atrelado á sabedoria, do qual trata este texto. (Nota do autor)


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